Ano Novo, vida nova! É o que ouvimos a todos os momentos por aí.
Alguns ficam chocados quando eu digo que não ligo muito para ano Novo. Não ligo mesmo. Desejo um bom ano a todos que amo sim, mas no fundo no fundo, queria desejar mais do que um Feliz ano Novo!
Queria desejar a todos Feliz Vida Nova!
Não creio que é a virada de um ano que tenha o poder de mudar as coisas. Não creio que é o fim de um ano que traz um Vida Nova. Quando o ano acaba, a grosso modo, é apenas o Planeta Terra completando sua volta em torno do Sol.
O poder de mudar as coisas, de ser diferentes, de pensar e agir de uma maneira melhor vem de nós mesmo. E para mudar pra melhor não importa se é Janeiro, Fevereiro ou Março... Importa estar disposto a aceitar a condição de seres humanos, errantes mas com disposição e coragem de reconhecer seus erros e de modificá-los!
Sem listas, sem promessas que não serão cumpridas, sem resoluções e sem expectativas... À todos vocês mais do que um Feliz Ano Novo! Uma Feliz Vida Nova a cada dia!
PS: Não, ressuscitar o blog não foi uma resolução de Ano Novo!
Eu tenho um problema muito sério....Sou viciada....Viciada em livros. Não consigo ficar muitas horas sem ler, sejam livros sério, cabeças, livros bobos, romances inventados, revistas de tecnologia, revistas políticas,embalagens de xampu, receitas atrás da maionese....Onde existam letras formando um texto lá estou eu percorrendo-as com meus olhos...
A algum tempo atrás escrevi um texto para uma matéria da pós-graduação falando da minha relação com a leitura e a escrita. Acabei achando esse texto no meu computador e me emocionando com o que escrevi...sei que o texto é enorme mas gostaria de compartilhálo aqui.
" Não me lembro bem quando começou meu contato com a leitura. Sei que os livros existiam em minha casa, junto com as revistas em quadrinho da Turma da Monica. E devo admitir quando pequena eram elas que mais me interessavam.
Havia um ritual. Toda noite me contavam histórias. Algumas vezes elas eram inventadas, mas na maior parte do tempo elas eram retiradas ou das revistas em quadrinhos que eu possuía aos milhares ou de um grande livro vermelho que possuía as histórias mais incríveis que eu já havia ouvido. Lembro de viver encantada com o menino que tinha subido por um pé de feijão, ou com outro menino que era do tamanho de um dedo polegar, com uma menina que levava doces para a avó e conversava, sim CONVERSAVA com um lobo! Mas a preferida era a história que tinha três cachorros com poderes incríveis! Um era capaz de trazer comida, outro podia roer qualquer coisa no mundo e o outro era forte e devorador de feras!!! Ah como eu os queria! Precisava ter cachorros assim!!!
O livro vermelho, guardado até hoje, já meio capenga e colado com fita adesiva, me fazia viajar, mas eram as histórias da Mônica e de seus amigos que causavam verdadeira identificação! Aquela turma de crianças que brincava, aprontava e brigava me fazia lembrar de minhas brincadeiras e brigas com meus amigos.
Achava as histórias tão divertidas que pedia para meu pai ler sempre, como eu ainda não sabia ler precisava sempre recorrer a alguém para ouvir minhas histórias favoritas. Geralmente eu era enganada, mas logo fui crescendo e ficando esperta e logo percebi que, talvez movido pelo cansaço, meu pai gostava de pular páginas das revistinhas, fazendo as histórias ficarem mais curtas. Como sempre pedia para ouvir as mesmas histórias acabei decorando-as e passei a protestar cada vez que uma página era pulada.
E assim fui crescendo, doida de vontade de saber ler para não precisar que ninguém mais o fizesse para mim. O dia de começar na Classe de Alfabetização foi aguardado com muita ansiedade por mim durante todas as férias. Quase não dormi na noite anterior à volta as aulas e de manhã lá estava eu, de uniforme novo, mochila nova, esperando o ônibus da escola (outra novidade, nunca tinha entrado em uma condução escolar!!!UAU!!!) achando que já voltaria para casa no mesmo dia lendo tudo!
E eu, logo eu que estava doida para chegar logo, acabei chegando atrasada. A rodinha já tinha começado e eu fiquei pensando, e, se eles já aprenderam a ler? Mas ufa...logo percebi que as coisas não eram bem assim. Na verdade, até que era nem parecido com a educação Infantil que eu acabara de deixar para trás. Fizemos rodinha com chamada, janela do tempo brincamos de massinha, lanchamos, desenhamos e pronto, o dia acabou, hora de voltar para casa!
A decepção só não foi maior porque minha mãe me explicou que demorava um pouquinho para aprender a ler tudo. Que não seria assim em um dia. Tudo bem, eu podia esperar mais um pouco, até que estava sendo divertido!
Fui alfabetizada de um modo tradicional, com cartilha onde havia um capítulo antes do capítulo das letras onde se devia somente cobrir pontinhos fazendo linhas retas, curvas, ziguezagues e tal. E eu lá doida para ler tudo, cobrindo os pontinhos rápido e de qualquer jeito doida para chegar às letras.
Alfabetizada, danei a fazer um jogo pela rua, eu olhava as palavras sem tentar lê-las. Não preciso nem dizer que não conseguia nunca, ai que a coisa ficou clara, EU JÁ SABIA LER!
Pronto, agora que ninguém mais me segurava! Fui correndo à biblioteca da escola pegar o meu primeiro livro sozinha e o terminei no mesmo dia. Nunca me esqueci que o meu primeiro livro pegue emprestado em uma biblioteca (que na verdade era uma salinha de aula com estantes divididas por séries, mas era a MINHA biblioteca) foi a “ Margarida Friorenta”.
Nós podíamos pegar os livros correspondentes à nossa série mais os da séries seguinte. Logo, logo me tornei conhecida da “moça da biblioteca” pois estava quase todo dia lá devolvendo ou pegando alguma coisa. No final do ano ganhei o prêmio de criança que pegou mais livros na biblioteca! E nem sabia o por que!!!
E assim minha paixão por ler foi crescendo. Quando cheguei a primeira série, tive a sorte de ter uma professora tão apaixonada por livros que conseguia me fazer ter mais vontade de ler ainda. Passamos um ano maravilhoso Rodeados por ler e fazer histórias. Foi quando eu descobri que escrever pode ser tão divertido quanto ler! Até hoje devo grande parte de minha formação de leitora e de escritora a esta professora que com sua paixão me mostrou que ler e escrever eram mais deliciosos do que eu podia imaginar.
E assim fui crescendo em dois mundos, no mundo real e no mundo dos livros. E foi no mundo dos livros que vivi minhas maiores aventuras. Brinquei em um sítio alegre e cheio de personagens e aventuras fantásticas, fui a lugares mágicos cheios de fadas, duendes e bruxas, conheci uma certa bolsa amarela, a casa de uma madrinha muito especial e vi minhas histórias preferidas misturadas por feiurinha entre outras milhares de aventuras.
Fui crescendo e o mundo dos livros também foi crescendo comigo. Passei a cavalgar por terras medievais distantes com um cavaleiro errante, em um livro muito grosso cacei uma baleia, conheci um índio guarani e tantos outros interessantes.
Fui descobrindo que era impossível não se apegar a certos personagens. O pior, não importa se já se está com dezenove anos, se um certo bruxo de uma séries de livros fantásticas sobre um bruxinho especial morre, é como se seu coração morresse um pouco também. E você acaba se debulhando em lágrimas.
Quando virei professora da Educação Infantil senti que era hora de passar a minha paixão pelos livros adiante! Era a minha hora! E logo os livros passaram a fazer parte do cotidiano de minha turma de Jardim II. Líamos de tudo, contos de fadas, livros maiores feitos para crianças maiores que eram lidos em capítulos diários, lemos receitas, embalagens, etc...
E escrevemos muito também! Algo acontecia de importante?Então vamos escrever no blocão! Fizemos uma experiência científica que deu errado? Vamos escrever no blocão também! Uma receita preparada ficou deliciosa? Blocão! Vimos três borboletas no parquinho e criamos uma história para elas? Blocão, Blocão, blocão! E os pedidos não eram feitos por mim, mas sim por eles que adoravam me ver escrevendo.
Junto com essa brincadeira de escrever no blocão, eles iam descobrindo as letras que conheciam por pertencer aos seus nomes, relacionavam outras a nomes conhecidos, percebiam que escrevemos mais devagar do que falamos, percebiam os espaços entre as palavras, os pontos finais, e diversos outros elementos da escrita. Tudo isso feito de forma tranqüila e divertida.
Como professora pude por para fora toda a minha veia de inventora de histórias. Inventei histórias sobre jacarés, índios, piratas, misturei contos de fadas, fui adaptando e inventando histórias para os meus queridos alunos que sempre mostraram-se ouvintes muito atentos.
E assim fomos passando o ano. De tanto lermos diferentes tipos de texto algumas crianças começaram a interessar-se em copiar palavras e letras. Pediam que eu os ensinasse a escrever isto ou aquilo.... E eu sempre dizia: - Ah! Escreve do seu jeito, como você pensa que é.
E pronto, aos poucos eu já tinha crianças fazendo as primeiras tentativas de escrita espontânea sem que eu ao menos tivesse esta intenção.
Com a experiência que tive em sala de aula, tanto como aluna quanto como professora e com as discussões ao longo do curso pude perceber que o processo de ensino e aquisição da linguagem escrita não precisa ser algo difícil e desprovido de prazer. Ler e escrever são situações que trazem imenso prazer às crianças, desde pequenas e devem sim ter uma carga de prazer e significado para as crianças. Tão importante quanto a discussão do melhor método a ser aplicado é a discussão sobre que tipo de leitores se quer formar. Pessoas que lêem por obrigação ou pessoas que tenham prazer em viver no mundo dos livros? Prazer este que uma vez que se aprende não se esquece mais..."
E foi preciso uma tragédia para que o mundo voltasse seus olhos ao Haiti.
O Haiti há anos sofre com a miséria e com a violência. Já passou por uma feroz ditadura que durou 20 anos, já sofreu com furacões e outros desastres. Mas, somente diante tamanha tragédia a maior parte do mundo pensa pela primeira vez nesta ilha.
No ano passado, em alguns locais foi publicado e até mesmo mostrado em reportagens para telejornais que uma das maneiras encontradas pelo povo haitiano para enganar a fome era mastigar bolachas feitas de terra, sal e manteiga. Essa bolacha era vendida ao equivalente à R$0,25, sendo muito mais barata que a comida.
De acordo com a ONU, em fevereiro de 2009, haviam 3,3 milhões de famintos no país. Segundo a UNICEF, em 2009, 24% das crianças do pais até 5 anos de idade sofriam de desnutrição, enquanto 9% sofriam de desnutrição severa!
Mas a população mundial tem o dom de esquecer.Esquecer que tantas crianças no Haiti, na África e até mesmo aqui, perto de nós, morrem diariamente vítimas da miséria e da fome! Parece fácil esquecer que milhares pessoas não tem suas necessidades básicas atendidas, vivendo sob condições subumanas.
Mas parece fácil lembrar que o carnaval está chegando, que neste ano tem copa do mundo... Talvez alguns poucos lembrem-se ainda que neste ano também temos eleições presidenciais.
Não quero ser mal interpretada, não estou em momento nenhum dizendo ser ruim a mobilização à esta tragédia no Haiti, pelo contrário! Porém, me vem sempre a cabeça o porque de não haver igual mobilização mundial pelas pequenas tragédias do dia a dia. Pelos milhares de orfãos que sempre existiram, pela Aids que matam milhares não só na África, mas no mundo todo!
Quantas tragédias ainda serão necessárias para que o mundo se torne um lugar menos egoísta? Quantas tragédias mais serão precisas para que a população mundial volte seus olhos para os que sofrem diariamente?
"Pense no Haiti, reze pelo Haiti O Haiti é aqui O Haiti não é aqui" - Caetano Veloso
Pedagoga, professora, pós-graduada da PUC, dona de um gato mimado, louca por Beatles, chorona e tagarela. As pessoas costumam lembrar de mim pelo meu bom humor e piadas, em momentos oportunos ou não!